José Carranca Redondo nasceu na Lousã a 29 de abril de 1916, durante a Primeira Guerra Mundial, crescendo com as consequências do conflito. Tendo estudado apenas até à 4ª classe, começou a trabalhar aos 12 anos, por coincidência, na fábrica de bebidas que acabaria por comprar anos mais tarde. A partir daí, teve diversos trabalhos, até a Segunda Guerra Mundial o ter feito perder o emprego na Remington, onde já era o melhor vendedor. Assim, em 1940, decidiu comprar a fábrica de bebidas onde era produzido o Licor Beirão, casando nesse mesmo ano no dia 5 de outubro, para subtilmente poder comemorar a implementação da República, uma vez que no ano anterior não lhe haviam dado permissão para lançar fogo de artifício na data.
A partir de então, teve a difícil tarefa de vender bebidas espirituosas numa época em que as pessoas mal tinham dinheiro para sobreviver. Mesmo assim, não desistiu e decidiu que o melhor a fazer era promover a bebida. Para isso, começou a afixar cartazes de norte a sul do país, visitava cafés e oferecia merchandising aos proprietários, como réguas, porta- guardanapos, autocolantes, entre outros, todos com menção ao Licor Beirão. Por vezes, juntava também um grupo de amigos e visitavam os cafés que não vendiam a bebida, entrando neles à vez e pedindo-a. Alguns dias depois, enviava um dos seus funcionários para vender algumas garrafas.
Devido ao facto de o Licor Beirão não ter a notoriedade que tem atualmente, a maior parte das vendas acontecia na época do Natal e da Páscoa e, por esta razão, os trabalhadores que fabricavam as caixas do transporte da bebida não tinham o que fazer durante o resto do ano. Assim, José Carranca Redondo aproveitou o tempo livre dos funcionários para lhes designar a produção de outros artigos, como brinquedos (para a que viria a ser a segunda maior fábrica de brinquedos do país), artigos de campismo, autocolantes (tendo criado a primeira serigrafia do país) e réguas. Foi assim que, fazendo uso dos recursos à sua disposição, fundou várias empresas.
Dos cartazes produzidos pelos funcionários, surgiu a ideia dos outdoors e, por terem sido os primeiros no país a utilizá-los, outras empresas mostraram interesse. Como resultado, criaram uma das maiores agências de publicidade do país. Apesar disso, José Carranca Redondo encontrou alguns problemas com o sistema judicial quando esta agência já estava bem estabelecida no mercado. Isto porque o sistema de justiça emitiu um decreto-lei proibindo a publicidade perto das estradas, alegando o risco de acidentes. José Carranca Redondo, afirmando ser contra proibições, não cumpriu o decreto e, consequentemente, foi processado 94 vezes. Depois de perder a primeira audiência, em que compareceu acompanhado de um advogado, decidiu defender-se a si próprio daí em diante, acabando por ganhar todos os processos. Depois disso, para provar que a sua publicidade não causava acidentes, colocou outdoors nas curvas mais perigosas do país, e conseguiu que uma seguradora estabelecesse uma apólice que indenizaria qualquer pessoa que sofresse um acidente ali e pudesse conectá-lo à publicidade, 100 contos; um seguro que nunca chegou a ser pago.
Mais tarde, a madeira usada nos outdoors foi substituída por fibra de vidro, e, como era contraprodutivo ter toda uma indústria de fibra de vidro apenas para produzir outdoors, começaram a fabricar barcos, tanques e, mais importante, sinais de trânsito (com publicidade ao Licor no verso). No entanto, estes sinais rodoviários necessitavam de tinta refletora, por isso, José Carranca Redondo, sem falar uma única palavra de inglês, viajou para os Estados Unidos para aprender a produzi-la, já que naquela altura só existia uma empresa no mundo que a fabricava.
Todas as oportunidades eram aproveitadas para promover o licor e, quando os primeiros satélites de comunicação foram enviados para o espaço, o seu filho elaborou calendários com os horários em que seria possível observá-los, e que eram enviados para todos os jornais do país, onde eram publicados juntamente com uma menção ao Licor Beirão. Porém, o “Jornal de Notícias” publicou a programação sem mencionar a bebida, o que levou José Carranca Redondo a fornecer-lhes horários incorretos. Após reclamações dos leitores, o “Jornal de Notícias” protestou junto de José Carranca Redondo, que respondeu que tinha sido deliberado e não um erro, já que nem sequer lhe tinham agradecido o envio dos horários. O Licor Beirão foi também a segunda marca a anunciar na televisão, depois de José Carranca Redondo ter visto o potencial daquele canal para dar uma vantagem competitiva ao seu negócio.
No que diz respeito à família, José Carranca Redondo era um homem bastante devoto. A sua esposa foi parte fulcral no seu negócio, tendo gerido as tarefas diárias da fábrica enquanto ele pensava em formas inovadoras de publicitar o licor. O seu filho, José Redondo, para além de grande amigo, era o seu braço direito em todos os negócios, e quanto às suas filhas, sempre se mostrou um pai atencioso e presente.
A sua influência ainda é percetível na empresa nos dias de hoje, onde as campanhas publicitárias são caracterizadas por ideias criativas e disruptivas. Desta e de inúmeras outras histórias, podemos concluir que José Carranca Redondo foi realmente um homem visionário e persistente que nunca desistiu. Alguém que, apesar de ter tão pouca formação académica, mostrou estar bem à frente do seu tempo e conseguiu mudar a indústria do marketing em Portugal.
Para conhecer melhor a história de vida deste homem, pode consultar