Por Hugo Nogueira, Formador na Flag e Omnichannel Data Scientist.
Nos últimos anos, o marketing tem sido profundamente impactado pelo avanço da inteligência artificial. Como cientista de dados, com experiência em empresas de retalho desde a Supply Chain até ao E-commerce, acompanho de perto como algumas marcas tentam transformar dados em decisões estratégicas.
No entanto, vejo um desafio crescente: o hype em torno da GenAI pode eventualmente ofuscar a importância dos fundamentos analíticos e do conhecimento do negócio na construção de soluções realmente diferenciadoras e impactantes.
Atualmente, a discussão sobre Inteligência Artificial no marketing (e em todo o lado genericamente) está dominada pela GenAI. Ferramentas que geram conteúdo, personalizam interações e automatizam processos estão a transformar a forma como comunicamos com os consumidores.
No entanto, é fácil cair na armadilha de acreditar que todas as soluções devem envolver GenAI. Empresas a implementar chatbots avançados sem uma clara estratégia de retenção, ou a gerar campanhas de e-mail marketing hiperpersonalizadas sem considerar o real impacto no valor do cliente podem ser uma espécie de “blind spots” que necessitam de uma consciencialização imediata.
Acredito que a GenAI é uma das importantes peças no nosso futuro. Talvez uma das maiores revoluções que vamos viver neste século. Mas também acredito que uma adoção eficiente exige um balanceamento entre inovação e pragmatismo.
Atualmente, um dos maiores desafios não é apenas a implementação destas novas tecnologias, mas também a criação de uma ponte entre as equipas de IA e os decisores do negócio.
Para que as inovações aconteçam de forma estruturada e eficaz, é essencial investir em formação e especialização de uma forma transversal. As equipas de marketing e de negócio necessitam de compreender alguns dos princípios básicos da IA e as suas limitações, assim como as equipas técnicas necessitam de desenvolver uma visão mais aprofundada dos desafios e objetivos estratégicos das empresas. Só assim podemos garantir que todos falamos a mesma linguagem e que as soluções adotadas fazem sentido no contexto do negócio.
Cada vez mais, vejo a necessidade de perfis híbridos, que consigam transitar entre o mundo técnico e o estratégico, facilitando a comunicação e garantindo que as decisões são baseadas não só em dados, mas também na realidade do mercado.
Programas de formação interna, workshops interdisciplinares e a criação de funções que funcionem como facilitadores entre os dois mundos serão fundamentais nos próximos anos.
Há, no entanto, um ponto que me intriga: como é que a criatividade irá evoluir num ambiente onde a diferenciação se torna mais difícil? Se todos usarmos as mesmas ferramentas de IA, aplicarmos as mesmas técnicas de segmentação e otimizarmos campanhas da mesma forma, onde estará a vantagem competitiva? Talvez a resposta esteja na combinação entre literacia em IA, experiência de mercado e criatividade humana. Acredito que o futuro do marketing lucrativo não estará apenas na capacidade de usar IA, mas na inteligência em saber quando e como utilizá-la.
Adaptar-se à nova realidade requer um entendimento profundo do negócio, da audiência e das nuances que nenhuma IA pode substituir completamente.
A diferenciação estará na capacidade de criar estratégias únicas, combinando intuição, conhecimento e tecnologia de forma equilibrada.
Afinal, no final do dia, não são apenas os dados que geram lucro, mas as decisões que tomamos com eles.