Por Carlos Manuel de Oliveira, Humantech Marketing Futures
A esperança de vida
A evolução das condições socioeconómicas, da saúde pública e da investigação clínico/medicamentosa, têm vindo a propiciar uma maior longevidade do Ser Humano, em particular nos países mais desenvolvidos.
Nas primeiras décadas do século XIX a esperança de vida na Europa Ocidental rondava os 33 anos, tendo aumentado significativamente ao longo das décadas com a média global a passar de 52,5 anos em 1960 para 72 anos atualmente, de acordo com a ONU.
Em 2023, Portugal ocupava o 9º lugar, de entre os países com maior longevidade, a nível da esperança de vida (82 anos e meio) entre os 27 países da EU (comparado com 71,8 anos em 1982), sendo que Espanha ocupava o 1º lugar, com 84 anos.
Em termos prospectivos, de acordo com o estudo, em Portugal a esperança de vida à nascença para as mulheres passará de 84,8 anos em 2022 para 87,4 em 2050, um aumento de 2,6 anos, enquanto a dos homens aumentará 3,4 anos (de 79,1 em 2022 para 82,5 em 2050).
Estima-se que as doenças que mais afetarão a “próxima geração” são as não transmissíveis, como as cardiovasculares, cancro, doença pulmonar obstrutiva crónica e diabetes, associadas à obesidade, hipertensão arterial, alimentação pouco saudável e tabagismo.
A nível internacional, os países com maior esperança média de vida são: Espanha (83,3 anos) seguido pela Suécia (83,1 anos), Luxemburgo, e Itália (ambos 82,7 anos). No entanto, num censo de 2020, constatou-se que os homens de Okinawa viviam uma idade média de 80,27 anos e as mulheres, 87,44 anos.
Na Europa, a previsão de esperança de vida mais baixa é registada na Bulgária (71,4 anos), Roménia (72,8 anos), e Letónia (73,1 anos).
A esperança de vida no mundo aumentará quase cinco anos entre 2022 e 2050,
no caso dos homens e 4,2 anos no das mulheres, indica um estudo divulgado na revista científica britânica The Lancet. No entanto, o investigador americano Jay Olshansky, especialista em epidemiologia da Universidade de Illinois, considera que as previsões de maior longevidade são irrealistas. Olshansky argumenta que, desde 1990, os seres humanos têm vindo a atingir um limite biológico de 85 anos.
Segundo Olshansky, para se viver mais serão necessários tratamentos inovadores que retardem o processo de envelhecimento, em vez de se concentrarem na cura de doenças específicas como o cancro ou as doenças cardíacas.
A Inteligência Artificial (IA) e a longevidade
De que forma a IA poderá ter um impacto positivo na longevidade?
Em termos gerais, a IA tem impacto na cadeia de saúde: diagnóstico, prevenção e tratamento, medindo, prevendo e otimizando os processos.
A IA permite tratar dados de saúde individuais e coletivos, possibilitando efetuar diagnósticos mais rápidos e precisos de cada paciente, pela utilização de algoritmos de Machine Learning, que detectam padrões comportamentais e tipificam doenças e sintomas, por exemplo na utilização radiológica. Permite, ainda, a análise preditiva sintomática, a qual pode possibilitar evitar determinado tipo de doenças ou encetar em tempo adequado processos de tratamento.
A IA vai permitir a disponibilização de tratamentos totalmente personalizados, atendendo ao perfil genético individual, pela pesquisa e concepção de medicamentos e vacinas ajustadas às características de cada pessoa e patologia.
A Engenharia Genética e a Biotecnologia, com a utilização de IA, ao possibilitar a edição genética – metodologia CRISPR (Clustered Regularly Interspaced Short Palindromic Repeats) – permite detectar e corrigir alterações na cadeia de ADN, com consequência de cura de algumas patologias como, HIV, distrofia muscular e alguns cancros. A metodologia CRISPR, vai analisar famílias de sequências de ADN que ficam em bactérias, memória de infecções anteriores, permitindo a antecipação ou o evitar de eventuais doenças futuras, daí decorrentes.
Outras tecnologias complementares, como a nanorobótica, vão possibilitar a correção interna no organismo humano, de certas anomalias e efetuar nanocirurgias e cirurgias remotas.
Desde 2023, a empresa americana Neuralink, utilizando um interface-cérebro-computador (Brain-Computer Interface), começou a efetuar a implantação no cérebro de pequeníssimos chips, com centenas de filamentos que reestabelecem impulsos eléctricos perdidos, capturando, interpretando e traduzindo os sinais cerebrais, em comandos compreensíveis pelo computador.
Estes sinais são processados por algoritmos avançados, que identificam padrões e correlações entre os sinais cerebrais e os comandos desejados pelo paciente.
Torna-se possível, assim, colmatar deficiências de pacientes com doenças genéticas, ou derivadas de acidentes, de incapacidade motora que os tenha conduzido a certas paralisias. Até ao momento, foram intervencionados três doentes que vieram a conseguir, através do poder da mente, controlar mecanismos externos, como telemóveis e computadores.
Por tudo isto, a IA ao intervir nas fases pré e pós doença, pode contribuir para a melhoria da saúde, com impacto num eventual prolongamento da longevidade humana.